segunda-feira, 13 de junho de 2016

QUEM SABE?








Achei que fosse infartar. O coração pulsava forte, fazendo meu vestido se mover, e junto com ele os músculos todos do corpo para falar a verdade.
Enjoo. Fui vomitar, não consegui. Não conseguia ficar sentada. Andava e me sentia fraca andando.

 Calma, respira. Falava pra mim sem conseguir obedecer a nenhuma das duas palavras.
Respiração, respiração, piração, piração... Parecia que não ia ter fim. Sabia que ia.

 Por enquanto era voltar a fazer das tripas coração. O amor é isso, e parece que só isso mesmo. Esse eterno ir dormir em paz, e acordar querendo morrer. Eterno cicatrizar e remexer a ferida. Looping de calma e caos, sem fim. Também sabia que iria. Um dia iria.

 Já no terceiro cigarro, me lembrei da vez que eu te reconheci pelo queixo, num ângulo meio ¾, de costas. Quantas noites e manhãs, banhos de mar, cachoeiras e piscinas, viagens de carro e caminhadas. Quantas conversas, jantares e observações. Quanto tempo te olhando, meu Deus! Reconheço tudo, é tudo tão familiar quanto meu próprio corpo. Reconheço sem ver, pelo passo e pelo cheiro. O tamanho das mãos e a pressão dos braços, quando dentro do abraço.

 Meu cérebro milimetricamente te desenhou inteiro. Sei de cada cílio, posição de dedo segurando copo, cabelo crescido por cima da orelha, eu sei. Eu te vejo e enxergo até o que não vejo. Essa é a diferença. E essa é toda a diferença. Mapeamento completamente inútil, obra de um acaso desocupado. Será que um dia isso tudo se apagaria? Sabia que iria, um dia.

 Os dias seguem depressa... Por que isso é bom, e às vezes tão duro? Vejo fotos e algumas memórias que me fazem querer parar por ali, no que não é. É que na verdade eu estou, ainda. É essa tendência, sempre ela, a de querer permanecer no momento, sem lidar com a realidade dura de construir coisas, avante, dia a dia. Querendo sempre que o tempo pare no instante. Sempre o impossível, sempre ele.

 Ligo para deixar claro que estou desistindo, deixar claro que você tem que fazer rápido alguma coisa. Mas como? Fazer o que? No meio da fala me pergunto mentalmente se é isso mesmo que falam que é o amor, ou se isso é alguma doença mental bem banal. Agora na verdade nem interessa saber. O senso de urgência não abre uma brecha para o bom senso. Está tudo para ontem, agora, de um jeito que não esteve nos últimos “ontens” e tempos. “É tudo de mim isso aqui, você entende? E eu estou desistindo de você.”

 Você já deve imaginar que eu comecei a fazer a lista dos meus motivos. Daquele tipo que colo no espelho do banheiro, como adolescente que precisa lembrar a Tabela Periódica, e que eu adulta preciso para lembrar horários de remédios. Sofro desse mal e nada muda. Sigo precisando ser lembrada a todo tempo do que me faz bem, antes da asneira recomeçar a tomar conta, como uma contração que cumpre religiosamente o ciclo.

 Quero com isso silenciar a alma, a vontade, a fome... Esse sufocamento. Tão mais simples se tudo fosse pouco, só um pouco. Só às vezes. É só uma questão de se manter, e isso é tudo que posso fazer, sem saber se aguentaria por muito tempo. Mas, sabia que iria.

 Eu desisti, pelas tantas outras alternativas que ainda tenho. Inclusive a de voltar atrás. E sabia que iria, um dia.


quinta-feira, 2 de junho de 2016

Quando tudo é mistério...



Aqueles dias, que só Nina Simone para salvar, depois que já foi Bethânia e Vinícius...

Aqueles em que nada basta, você entende?

Ah meu amigo, ela pode até achar alento alguns instantes no seu ombro, mas especialmente nesses dias, não queira ser maior do que seu ombro. 

Ela está transbordando absolutamente tudo... 

Chega a doer de tanto, e nada. 

Você nesses dias deve aceitar que não será maior do que pode ser.
Ela guarda tanta coisa dentro dela, e tudo vira semente, tudo germina e brota. 

Não é pra entender. 
É só para estar junto dela na areia quando acabar o mergulho no mar, a manga da camisa quando o filme fizer chorar, dar atenção e amor com olhar. 

Estar. Permanecer. 

Não há mistério quando tudo é mistério.