quinta-feira, 10 de março de 2016

Dormingo


 
Poderia estar falando tudo isso pessoalmente, sim. 

Preferi escrever.

Isso é só entre nós dois. 

Nós que damos a maior importância ao que está escrito, merecemos e preferimos, eu sei.

Guarda aqui nesse monte de letrinhas pretas, organizadas pela imensidão do fundo branco, o cheiro do café que fiz para a gente despertar da delícia da estarmos juntos e preguiçosos com o domingo inteiro aos nossos pés. 

Pés que durante a noite inteira se procuraram, os quatro, tanto quanto os 4 braços...
Me senti convidada pra dançar, aquele ritmo lento, de carinho pelos meus cabelos, seus cabelos, cadenciado pela busca do lugar exato do seu ombro que foi feito, eu sei, pro meu repouso. 

A pose final, feita de acolhimento, formada dos nossos abraços infinitos, fortes, lentos, imensos... Emocionantes. 

Eu seria capaz de construir minha casa ali, naquele momento.
Me tornar marginal dessa poesia que não passa, e aguar todas as nossas esperanças ressecadas, todos os dias seguintes.

Vivo e revivo e escrevo, que é minha forma de embrulhar esse momento para presente. Para o presente. Que é para reviver e para entregar perpétua a você nossa manhã passada, vista da janela da minha casinha invisível, feita de amor eterno e perfume de café.

Pele pelo sol da manhã mostrando as marcas dos lençóis. Tatuagens temporárias, as únicas testemunhas. Gosto de lembrar delas, de você de costas, contra a luz da minha janela, do seu cabelo na nuca, da sua altura, dos seus dedos  segurando o cigarro apagado, do cheiro da sua blusa usada, do seu joelho que as vezes encostava no meu joelho. Meu endereço é esse. Desde aquele momento. Para sempre, desde sempre... Desde que desejei pela primeira vez na vida criar raízes, era ali que sem saber eu sonhei morar, parar.

Guarda aqui nessas letras, meu endereço. Você vai sempre me encontrar. Sentada nos seus joelhos, dando atenção à música nova, vestindo sua camisa, bebendo nosso café, escolhendo laranjas boas para nosso suco, tentando e não conseguindo sair dessa entrega, que ficou, e me paralisou nas suas cores, por todos os próximos dias, horas, pessoas, cores, perfumes e lugares... Por toda minha vida.