domingo, 27 de dezembro de 2015

Tome seu tempo





Toda mudança exige de você um pouco de sabedoria, e vai te dar em troca o dobro. Portanto, por enquanto, tome seu tempo. Pegue, beba, deguste, abrace, se acalme... Tome e o mantenha contigo, tranquilo. 

Mudanças são travessias. Todas exigem um cumprimento obrigatório de determinadas fases. As maiores são ainda mais exigentes.  Não são fáceis, não são sempre confortáveis, mas fundamentalmente necessárias. Quanto desapego é exigido, quanto afastamento, quanta paciência, quanta fé... Meu Deus, ah essa sim será testada. Mas não se preocupe, é este o momento, é este mesmo o esperado. Pressa e ansiedade já não têm a menor importância ou sentido. Já não tem função alguma, além de é claro, atrapalhar.

Tome tempo, porque atravessar dá trabalho. Conforme-se. Mudar é também renovar, é morrer um pouco, é soltar tudo que ficou preso entre unhas e dentes com afinco, durante, às vezes, muitos anos. E quando achar que tudo já foi embora, tudo já morreu, tudo já se foi, espere, pacientemente, porque sempre no segundo olhar você pode notar peso desnecessário para a longa caminhada. E sim, o que não estiver contigo para ajudar, nesse momento, joga contra.

Perca seu tempo. Não há insanidade nisso. Se tiver uma coisa mais importante do que a velocidade, esta é a direção. Espere. Até que seu coração se comunique diretamente com sua imaginação, e esta te faça sonhar acordada com os dias que virão. Não se mova até que isso aconteça. Não se mova até ter paz. Não se mova até que se mover não seja mais um grande sacrifício, e sim, parte da sua felicidade. 

Faça o seu tempo. Só você é dona, só você pode cuidar desse tempo sagrado. Mais do que excentricidade, é necessidade. Serpentes antes que troquem de pele por completo, se isolam e evitam se mexer, por instinto. E quando tudo é novo, o instinto pode ser uma boa bússola.

Boas sensações podem não ter começado ainda, e pode ser que demorem um pouco mais. No final das contas isso não faz diferença. Lembre-se de que o mais importante já foi feito, você já começou.
Você olha para trás e não está mais ali, atuando no antigo cenário. Velhos cenários, repletos de cheiro e lembranças, de velhos e repetidos erros.  E por mais que seja difícil olhar para frente sem enxergar o novo, todo pronto te aguardando, lembre-se de que o completamente novo às vezes precisa de um terreno bem distante para florescer.

Não se preocupe em enxergar agora. Você está a caminho. Aproveite seu tempo.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Ao meu querido Leãozinho.


    Como vai cabeção, cabeça de melão? Te escrevo para dizer que sinto saudades de entrevistar aquele corajoso pirata que depois de 5 meses atravessando todo o Atlântico, sofria com o navio naufragado em Copacabana, sem conseguir voltar para sua terra. Também de comemorar com o soldado que venceu sozinho a guerra contra aqueles 200 dinossauros... E quanto ao bombeiro que salvava todas as crianças (e somente elas) que estavam precisando dele? Você tem notícias? Outro dia me lembrei de quando soltamos 1 milhão de bolhas de sabão numa tarde, e que o corredor mais rápido do mundo conseguiu alcançar uma por uma, e estourar com a ponta do dedinho. Lembrei porque vi outro corredor atrás de outras bolhas, mas tenho lá minhas dúvidas se ele anda treinando a corrida tanto quanto você.

    
    Tem fabricado nuvens? Tem dado muitas entrevistas por conta da fama das suas coreografias? E quanto aos castelos de areias que construímos, e suas piscinas?  Quantas notícias preciso ter, não é mesmo? Foram anos de muitas aventuras. Mas me fale sobre elas a medida que for conseguindo. Imagino que hoje seu tempo seja mais concorrido.
    
    Eu o vi a pouco tempo, rapidamente, num fio de momento, que ainda não sei precisar qual, como ou aonde, mas você estava lá. Naquele menino. Me perguntava algo sobre como estava o boneco que morava na folha da minha agenda, se preocupando com sua alimentação, roupas e amigos... Sinto tanto por agora mal me lembrar do momento exato em que você se despediu de mim... Receio este da minha memória ter sido nosso último encontro. Justo para mim, que bastava olhar, e te encontrar. Vivo na criança, que habitava o menino. Que saudade que não cabe de estar contigo outra vez.
    

    A saudade é egoísta sim, mas é que não é fácil ter me acostumado a voar por onde quisesse, e agora ter meus pés tão realmente firmes no chão.  O seu olhinho fechando quando sorria, me dizendo aquelas certezas, me dão até hoje confiança quando preciso reforçar minha fé.
    
    Por essas e outras te escrevo hoje, pequeno filhote de leão, para te dizer com toda minha esperança, como ainda te caço nos olhos desse belo e feliz menino. Como sua companhia  inocente e leve me fazem falta em dias que me pego gargalhando sozinha, lembrando de tudo que a gente já fez. Mas também quero te dizer que entendo sua pressa momentânea de crescer. Ser crescido agora realmente tem lá sua importância. Aproveite, sim?
    
    Lembre-se sempre, que você vai continuar sendo tudo que quiser, acreditando, e tendo pensamentos bonitos... Você já voou muitas vezes, já fez coisas que vão te dizer que são impossíveis. Não esquenta. Você sempre pode tudo.
    
    Volte (logo) quando puder. Ainda não esqueci sua promessa de dar uma volta naquela pipa com vaga para dois ;)

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“Você conhece aquele lugar entre dormir e acordar, o lugar onde você ainda pode lembrar de sonhar? É onde eu sempre te amarei. É onde eu estarei esperando.”
J. M. Barrie, Peter Pan

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Sanidade em FIM





      Olhei para mim mesma no espelho do banheiro, me vendo sob a luz sincera das 10h da manhã, de cara lavada, sem nenhuma roupa ou adereço que me fizesse ver outra coisa além de mim, sem outra referência, outra distração. Prendi os meus cabelos num rabo de cavalo, mirei nos meus próprios olhos e disse muito séria, feito doida falando sozinha, em voz alta, para que ouvisse bem: você não vai tentar outra vez. Você não vai mais acreditar e insistir. Vocês não tem futuro juntos.
      
      Pronto. As palavras faziam muito sentido e entraram na consciência feito um mantra. Tentava achar uma brecha entre elas, um erro nessa lei que me desse a liberdade da desobediência... 10 minutos de reflexão, e chega de discussão. Obedeça.  Está bem.

       Sanidade enfim. Liberdade enfim. Coração e... Fim. 

     Sete ondas puladas na virada do ano novo, orações e pedidos de proteção, meditação, yoga, canalização de energia, e algum resultado disso tudo, chamado por mim de auto controle. Escolher finalmente o que fazer, por quais caminhos andar, e parar de correr cega, por instinto e por desejo. Feito bicho, insana, inconsequente e louca. A mente soberana sobre o corpo, que domado, ainda se debatia rebelde e abstinente. 

       A mente que não conhecia o auto controle mal sabe lidar com as batalhas, e duvida de si mesma, e vez ou outra quase perde. Pobre mente... Máquina inteligente, convivendo com o revés da inteligência, pensa demais e muito seriamente sobre si mesma. Numa conclusão e outra vai perdendo o fio da meada... E dorme, natural ou quimicamente, renovando o fôlego e fugindo aos grandes enfrentamentos.

      Corpo maltratado, cutucado alguns dias apenas para confirmação de que ainda existia, sofre e reclama feito bicho em cativeiro. Sobrevive do mínimo e do básico. Arde, chora e grita quando em crise, e logo cansa, porque tempo é deus sem piedade, e não deixa durar o muito, o tanto, o transbordamento... Tempo gosta de amenidades e equilíbrio. Gosta de que eu mexa no jardim cheio de terras ruins, vasos velhos e podas por fazer. Tiveram as burocracias da casa nova que estou comprando, que com alguns selos, carimbos e filas depois, a missão estava cumprida. O tempo também gosta de que eu arrume armários, mude os móveis de posição, e fique acompanhando a vida alheia. Algumas vezes o corpo só obedece aos caprichos do tempo quando ébrio... Delicada essa relação.

      Fizeram-se noites e dias, e muita alma precisou se envolver nessa relação de doma. Algo superior, que acompanhasse, servindo de apoio vindo de algum plano divino, alheio a todo caos. Alguns dias me lembrava de olhar nos olhos, naquele mesmo espelho, e me parabenizar com duas palavras; bom trabalho! Que silenciavam outras duas; até quando?