quinta-feira, 8 de outubro de 2015

VENDE-SE



Até aonde vai essa famosa expressão “poder de compra”? 

Até que ponto se pode encomendar, avaliar, medir, pesar... Julgar bom e necessário o suficiente para trocarmos por dinheiro. E até que ponto se pode substituir a nossa própria presença? Terceirizar nosso tempo? 

Trocamos dinheiro por coisas prontas o tempo todo... Não temos tempo. Não podemos cozinhar a própria comida, preparar o próprio suco, muito menos cultivar e colher nossos vegetais. Não temos tempo e nem aprendemos a costurar a própria roupa, a construir a própria casa, a planejar e construir os próprios móveis.
Não temos tempo de criar. Compramos tudo criado, pronto, feito. Os brinquedos brincam e fazem as brincadeiras sem que as crianças possam imaginá-las. Os roteiros de viagens já foram cuidadosamente planejados.  Os armários, aqueles com suas roupas e lembranças preferidas, já foram organizados. Alguém já deu o alimento para o seu filho, trocou suas fraldas e o colocou para dormir. Alguém planejou e cuidou do seu jardim, alguém transou com alguém em troca de dinheiro...

Alguém irá cuidar de passear com os cachorros, eu pago para isso.
Alguém irá arrumar a minha casa, eu pago para isso.
Alguém irá levar meus filhos na escola... Alguém irá brincar com eles na praia...

Paga-se por momentos, paga-se por lembranças, por experiências.
Não entendo até aonde o poder e dinheiro realmente podem trazer o que chamamos de facilidade. O fato é que me assusta esse aviso implícito nas ruas, sem que ninguém se choque, escrito em letras garrafais: "COMPRO SEU TEMPO, FIQUE COM MINHA VIDA. PAGA-SE BEM."

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