Achei que fosse infartar. O coração pulsava forte, fazendo
meu vestido se mover, e junto com ele os músculos todos do corpo para falar a
verdade.
Enjoo. Fui vomitar, não consegui. Não conseguia ficar
sentada. Andava e me sentia fraca andando.
Calma, respira. Falava pra mim sem conseguir obedecer a
nenhuma das duas palavras.
Respiração, respiração, piração, piração... Parecia que não
ia ter fim. Sabia que ia.
Por enquanto era voltar a fazer das tripas coração. O amor é
isso, e parece que só isso mesmo. Esse eterno ir dormir em paz, e acordar
querendo morrer. Eterno cicatrizar e remexer a ferida. Looping de calma e caos,
sem fim. Também sabia que iria. Um dia iria.
Já no terceiro cigarro, me lembrei da vez que eu te reconheci
pelo queixo, num ângulo meio ¾, de costas. Quantas noites e manhãs, banhos de
mar, cachoeiras e piscinas, viagens de carro e caminhadas. Quantas conversas,
jantares e observações. Quanto tempo te olhando, meu Deus! Reconheço tudo, é
tudo tão familiar quanto meu próprio corpo. Reconheço sem ver, pelo passo e pelo
cheiro. O tamanho das mãos e a pressão dos braços, quando dentro do abraço.
Meu cérebro milimetricamente te desenhou inteiro. Sei de
cada cílio, posição de dedo segurando copo, cabelo crescido por cima da orelha,
eu sei. Eu te vejo e enxergo até o que não vejo. Essa é a diferença. E essa é
toda a diferença. Mapeamento completamente inútil, obra de um acaso desocupado.
Será que um dia isso tudo se apagaria? Sabia que iria, um dia.
Os dias seguem depressa... Por que isso é bom, e às vezes
tão duro? Vejo fotos e algumas memórias que me fazem querer parar por ali, no
que não é. É que na verdade eu estou, ainda. É essa tendência, sempre ela, a de
querer permanecer no momento, sem lidar com a realidade dura de construir
coisas, avante, dia a dia. Querendo sempre que o tempo pare no instante. Sempre
o impossível, sempre ele.
Ligo para deixar claro que estou desistindo, deixar claro
que você tem que fazer rápido alguma coisa. Mas como? Fazer o que? No meio da
fala me pergunto mentalmente se é isso mesmo que falam que é o amor, ou se isso é alguma
doença mental bem banal. Agora na verdade nem interessa saber. O senso de
urgência não abre uma brecha para o bom senso. Está tudo para ontem, agora, de
um jeito que não esteve nos últimos “ontens” e tempos. “É tudo de mim isso
aqui, você entende? E eu estou desistindo de você.”
Você já deve imaginar que eu comecei a fazer a lista dos
meus motivos. Daquele tipo que colo no espelho do banheiro, como adolescente
que precisa lembrar a Tabela Periódica, e que eu adulta preciso para lembrar
horários de remédios. Sofro desse mal e nada muda. Sigo precisando ser lembrada a todo tempo do que me faz bem,
antes da asneira recomeçar a tomar conta, como uma contração que cumpre
religiosamente o ciclo.
Quero com isso silenciar a alma, a vontade, a fome... Esse
sufocamento. Tão mais simples se tudo fosse pouco, só um pouco. Só às vezes. É
só uma questão de se manter, e isso é tudo que posso fazer, sem saber se
aguentaria por muito tempo. Mas, sabia que iria.
Eu desisti, pelas tantas outras alternativas que ainda tenho. Inclusive a de
voltar atrás. E sabia que iria, um dia.
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