quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A carta que ficou.


"Sabe o que é? É que eu cansei. Eu cansei de você. Cansei de tanto gastar o meu “gostar” de você e de todos os mecanismos que  tive que inventar para o meu coração não desistir de nós. Cansei de alimentar essa falta de historia, de ação, falta de drama, de riso, de beijo, de transa, de briga, de ódio, de faltar tudo. Cansa... Cansaram essas mentiras esfarrapadas que a gente conta para as crianças, sendo contadas à mim e por mim.
           Cansou essa luta vã, sempre esperando por um milagre, essa fé no destino, e no bêbado que fez previsões para o nosso futuro juntos. Não houve nosso futuro, houve foi meu passado congelado em poucas e pequenas lembranças suas. E me cansa agora estar escrevendo essa carta que você não vai receber.
           Eu só não vou cair nessa de "se não foi, não era pra ser". Claro que era pra ser. Foi pra ser. Só que acabou não sendo absolutamente nada.
         Quando a gente cresce começa a aprender que a vida também é feita de frustrações, de grandes feitos não reconhecidos... Enfim, toda essa coisa que lembra o desperdício.
           Você mudou? Ou minha mudança foi a ponto de não te achar mais? Penso nisso porque nos últimos 10 anos praticamente todos os meus gostos mudaram. Você foi o único que permaneceu.
           Quanta falta de criatividade, ser ainda encantada pelo mesmo brilho nos olhos, pelo mesmo tom de voz, pelo mesmo estilo (ainda que esse também mudasse, mas é que você acabava escolhendo sempre o que me encantaria por pura obra do acaso), pelo mesmo cheiro, mesmo nome e sobrenome, mesmo homem. Que nunca chegou de fato a ser meu, o meu homem, e nem homem o suficiente para ser meu.
            O hiato dessa vez pode ter sido grande demais para a minha esperança, que enfim morreu. Digna de toda boa esperança que cumpriu seu papel de resistir até que nada mais existisse. Assistir a morte do amor é libertador, mas a da esperança é triste, é sem poesia, é ter acabado a festa e você ir embora, cansada e sozinha, porque o moço não apareceu.
            Por fim eu te agradeço por todas essas emoções. Mais pelas primeiras obviamente, as mais intensas e felizes, mas de modo geral agradeço. Todos esses anos convivendo com um amor tão grande e tão puro, fizeram de mim um ser humano amável, com um brilho diferente nos olhos, com vontade de distribuir esse amor. Me ensinaram que amor vale a pena, sempre, seja ele do jeito que for. Essa lição não tem preço."
 
 

8 comentários:

  1. Como não ser sua fã, com um texto tão lindo desses? Escreva mais!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu que sempre fui sua fã!!!! To feliz demais com seu comentário!! :)

      Excluir
  2. nossa :)
    maravilhoso teu texto!

    ResponderExcluir
  3. Alex Ribeiro Cabral4 de junho de 2013 às 12:33

    Espetacular! Conheci o blog hoje por uma indicação. Me surpreendi com a qualidade e a veia poética do texto! :)

    Me fez lembrar de um poema de Drummond, do livro Amar se Aprende Amando:

    AMOR
    1985 - AMAR SE APRENDE AMANDO


    O ser busca o outro ser, e ao conhecê-lo
    acha a razão de ser, já dividido.
    São dois em um: amor, sublime selo
    que à vida imprime cor, graça e sentido.

    "Amor" - eu disse - e floriu uma rosa
    embalsamando a tarde melodiosa
    no canto mais oculto do jardim,
    mas seu perfume não chegou a mim.

    ResponderExcluir
  4. Obrigada Alex! E aproveito para informar a todos que o blog não saiu do ar. A dona está apenas vivendo uma fase de muito pouco tempo, então para manter a qualidade eu preferi esperar me organizar mais para postar assuntos sempre bacanas:)

    ResponderExcluir