sábado, 12 de setembro de 2015

A pequena mulher.



A mulher adulta, cansada e apressada que mal respira de tanto correr atrás do tempo e tanto que o tempo foge dela... Ela passa pelo caixa do lotado supermercado, se surpreende pela falta do caos, e das filas e acredita está vendo uma miragem. Estava realmente vazia.  Mas milagres não acontecem, e a admiração logo é substituída pela curiosidade.
Verificando se de fato algo de divino estava diante de seus olhos, pede a confirmação da funcionária “Boa noite senhora, este caixa está fechado?”...”Não!”. A caixa ainda está olhando para ela de boca fechada sem mesmo ter respondido seu comprimento.
A dona do “não!” era uma voz que vinha de baixo de sua cintura, do lado esquerdo.  Uma menina de aproximadamente 8 anos de idade olhava para ela, segurando uma boneca como se fosse um bebê, acompanhada de duas outras pequenas. Uma falava com ela em inglês e a outra em espanhol. O trio estava cercado de dois grandes e vazios carrinhos de compras. “Ah, ta bem. Obrigada!”. A cena era tão surpreendentemente verdadeira, que antes de querer entender, a mulher seguiu com sua compra e sua pressa para o mundo real de filas e de adultos. E lá, no caos, onde as coisas costumavam fazer todo sentido, ela refletiu sobre o que acabava de ver.
Seria uma brincadeira de meninas que fantasiavam a maravilha de ir às compras sozinhas com seus deliciosos e lindos bebês? Meninas que nem sabia se tinham hormônio para quererem ser mães e terem suas famílias. Meninas na primeira infância, de todas as partes do mundo, sonham em comum com o mesmo paraíso da vida adulta feminina? Quantas poderiam ter sido as opções dos seus sonhos? Onde brincava toda sua criatividade? Seriam sonhos genuínos dessas meninas? Ou de um mundo, que precisando de mães, fabricam as vontades que elas deveriam ter quando mulheres feitas? Mulheres feitas de cuidados com suas casas, empregos, saúde, vida amorosa, vida acadêmica, filhos, aparência, amizades, familiares, animais de estimação... Que brincadeira mais viva e cheia de detalhes inspiradores enfiados goela abaixo dessas baixinhas. Que já se preparando para a atuação do seu personagem eterno, se divertiam com suas opções de coisas de meninas, esmagando sem querer todo o potencial que poderia morar em algum outro lugar não explorado.
Sem saber que o mundo vai muito além da cor de rosa, elas traziam a mamadeira e empurravam suas compras imaginárias observadas pela mulher, bem de longe, do seu mundo real e exaustivo, a dois metros de distância. Sentia um misto de pena e de encantamento. Como era linda, plena e verdadeira a felicidade ideal.

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