A mulher adulta, cansada e apressada que mal respira de
tanto correr atrás do tempo e tanto que o tempo foge dela... Ela passa pelo
caixa do lotado supermercado, se surpreende pela falta do caos, e das filas e
acredita está vendo uma miragem. Estava realmente vazia. Mas milagres não acontecem, e a admiração logo
é substituída pela curiosidade.
Verificando se de fato algo de divino estava diante de seus
olhos, pede a confirmação da funcionária “Boa noite senhora, este caixa está
fechado?”...”Não!”. A caixa ainda está olhando para ela de boca fechada sem
mesmo ter respondido seu comprimento.
A dona do “não!” era uma voz que vinha de baixo de sua
cintura, do lado esquerdo. Uma menina de
aproximadamente 8 anos de idade olhava para ela, segurando uma boneca como se
fosse um bebê, acompanhada de duas outras pequenas. Uma falava com ela em
inglês e a outra em espanhol. O trio estava cercado de dois grandes e vazios
carrinhos de compras. “Ah, ta bem. Obrigada!”. A cena era tão
surpreendentemente verdadeira, que antes de querer entender, a mulher seguiu
com sua compra e sua pressa para o mundo real de filas e de adultos. E lá, no
caos, onde as coisas costumavam fazer todo sentido, ela refletiu sobre o que
acabava de ver.
Seria uma brincadeira de meninas que fantasiavam a maravilha
de ir às compras sozinhas com seus deliciosos e lindos bebês? Meninas que nem
sabia se tinham hormônio para quererem ser mães e terem suas famílias. Meninas
na primeira infância, de todas as partes do mundo, sonham em comum com o mesmo
paraíso da vida adulta feminina? Quantas poderiam ter sido as opções dos seus
sonhos? Onde brincava toda sua criatividade? Seriam sonhos genuínos dessas
meninas? Ou de um mundo, que precisando de mães, fabricam as vontades que elas
deveriam ter quando mulheres feitas? Mulheres feitas de cuidados com suas
casas, empregos, saúde, vida amorosa, vida acadêmica, filhos, aparência, amizades,
familiares, animais de estimação... Que brincadeira mais viva e cheia de detalhes
inspiradores enfiados goela abaixo dessas baixinhas. Que já se preparando para a
atuação do seu personagem eterno, se divertiam com suas opções de coisas de
meninas, esmagando sem querer todo o potencial que poderia morar em algum outro
lugar não explorado.
Sem saber que o mundo vai muito além da cor de rosa, elas
traziam a mamadeira e empurravam suas compras imaginárias observadas pela
mulher, bem de longe, do seu mundo real e exaustivo, a dois metros de
distância. Sentia um misto de pena e de encantamento. Como era linda, plena e
verdadeira a felicidade ideal.
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